terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Mudanças em um mundo que não mudava

Por décadas as nações árabes estão sendo dirigidas por regimes políticos opressores e ditatoriais. Como toda ditadura o comando político é mantido com pouquíssima participação popular, perseguição e muita violência. Nos últimos dias mudanças significativas estão ocorrendo nos países árabes, a Tunísia trocou seu mandatário, revoltas populares ganham força na Argélia, Iêmen, Jordânia e o maior movimento está ocorrendo no Egito.
           Essa onda de revolucionária teve início em 14 de janeiro na Tunísia, onde os manifestantes derrubaram o ditador Ben Ali que mantinha o poder desde 1987. Esse movimento ficou conhecido como Revolução de Jasmim. Porém, o triste saldo foi a morte de 60 pessoas nos confrontos.
            O mundo árabe possui várias características importantes para a economia e geopolítica mundial. Alguns países detêm enormes reservas de petróleo (Arábia Saudita, Iraque, EAU, Catar, Argélia e Líbia), outros possuem grande valor nas discussões políticas internacionais (Egito, Síria e Jordânia). Atualmente esses países recebem enormes investimentos de empresas globais e ainda financiam empreendimentos por todo mundo.
            As revoltas que ocorrem nesses países possuem explicações comuns, são elas:
·         Insatisfação com os governos fechados, opressores, violentos e corruptos
·         Desemprego, especialmente entre os jovens, e baixíssimo crescimento econômico
·         Apelo a processos políticos mais democráticos
·         Carência de gêneros básicos para a sobrevivência, além da crescente inflação nos preços dos gêneros alimentícios
·         Milhões de pessoas sem acesso a infraestrutura básica de sobrevivência

Uma característica marcante nos movimentos foi a utilização da telefonia e da internet com seus programas de redes sociais, tanto da Tunísia quanto, atualmente, no Egito o Facebook e o Twiter foram utilizados para marcar os encontros em tempo real, informar sobre as manifestações e coibir atos de violência. As manifestações, através desses veículos, podem ser convocadas a qualquer momento, além de constantemente reforçadas.
O fato novo percebido nos recentes eventos é a participação de vários setores da sociedade. A organização coube a grupos emergentes da classe média que posteriormente recebeu a adesão dos sindicatos, grupos religiosos e da população em geral.
 A revolução no Egito é, sem dúvida, a de maior importância. O país dos faraós é comandado por ditadores desde 1952 e o atual governante, Hosny Mubarak, está desde 1981 no poder. Sendo a maior nação árabe do mundo, 80 milhões de habitantes, o Egito possui uma importância estratégica, econômica e política para o mundo. Para os EUA o Egito é um parceiro que mantém acordos com Israel, equilibra as contendas entre o Hamas e o Fatah na Palestina e Mubarak controla, com mão-de-ferro, grupos extremistas e fundamentalistas do Islã. Mas o preço é alto, pois os americanos oferecem anualmente cerca de US$ 1,6 bilhão aos egípcios em ajuda militar e técnica, mas, por outro lado, sofrem com o ódio de grande parcela dos grupos fundamentalistas e escolas religiosas islâmicas.      
A relevância econômica do Egito é o controle do canal de Suez, por este importante nó logístico passa uma parcela considerável do petróleo mundial. No último dia do mês de janeiro o barril foi cotado a US$ 100, resultado da instabilidade na região.
Para o mundo essas mudanças são recebidas de modo nebuloso, pois as potências globais viam e vêem nos regimes ditatoriais uma “segurança”, pois os ditadores faziam e fazem uma política pró-ocidente, mas deixavam e deixam a população em péssimas condições socioeconômicas.
As dúvidas e conseqüências são as mais diversas:
·         Quem comandará o processo democrático? A sociedade civil ou grupos religiosos?
·         Como se portarão as grandes potências? Apoiarão a população ou manterão o apoio aos ditadores?
·         Há perigo de uma guerra civil?
As manifestações no Egito já deixaram 160 mortos. Os governos europeus e os EUA manifestaram, de modo tênue, apoio a população e pediram atos comedidos dos manifestantes e das autoridades egípcias. O exército egípcio declarou que não irá usar a força contra o movimento legítimo da população, esse fato é relevante, pois as forças armadas no país dão apoio aos governos desde 1952 e sinalizam certa insatisfação contra Mubarak.   

“Todas as condições para uma revolução islâmica estão presentes no Egito de hoje: disparidades de rendas, conflitos nas elites, opressão religiosa e alienação política. Hosny Mubarak está no poder desde o assassinato de Anwar Sadat, em 1981; seu cargo anterior era de vice-presidente, função que deu um jeito de nunca mais preencher. Sua polícia secreta, a Mukhbarat, está sempre de olho nas cidades superpovoadas e agitadas, enquanto seu governo faz muito pouco para atender às suas necessidades básicas.” (KHANNA, 2008, pág. 263)       

Esse relato de 2008 feito pelo analista político Parag Khanna é exemplar para o entendimento da latente problemática vivida pela população dos países árabes. Atualmente a população ganhou força através dos novos veículos de comunicação e no contato com toda comunidade mundial. Por outro lado os governos, mesmo tentando censurar os novos sistemas pouco podem fazer para conter os novos ares de mudança.

Um comentário:

  1. Mudanças sao benvindas, principalmente pra melhor. O problema é que a oposição mais bem organizada é a religiosa, e se assumir o poder, podemos trocar 6 por meia-duzia, um regime teocrático islâmico não combina com democracia, esse é o problema. Abraço

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