Por décadas as nações árabes estão sendo dirigidas por regimes políticos opressores e ditatoriais. Como toda ditadura o comando político é mantido com pouquíssima participação popular, perseguição e muita violência. Nos últimos dias mudanças significativas estão ocorrendo nos países árabes, a Tunísia trocou seu mandatário, revoltas populares ganham força na Argélia, Iêmen, Jordânia e o maior movimento está ocorrendo no Egito.
Essa onda de revolucionária teve início em 14 de janeiro na Tunísia, onde os manifestantes derrubaram o ditador Ben Ali que mantinha o poder desde 1987. Esse movimento ficou conhecido como Revolução de Jasmim. Porém, o triste saldo foi a morte de 60 pessoas nos confrontos.
O mundo árabe possui várias características importantes para a economia e geopolítica mundial. Alguns países detêm enormes reservas de petróleo (Arábia Saudita, Iraque, EAU, Catar, Argélia e Líbia), outros possuem grande valor nas discussões políticas internacionais (Egito, Síria e Jordânia). Atualmente esses países recebem enormes investimentos de empresas globais e ainda financiam empreendimentos por todo mundo.
As revoltas que ocorrem nesses países possuem explicações comuns, são elas:
· Insatisfação com os governos fechados, opressores, violentos e corruptos
· Desemprego, especialmente entre os jovens, e baixíssimo crescimento econômico
· Apelo a processos políticos mais democráticos
· Carência de gêneros básicos para a sobrevivência, além da crescente inflação nos preços dos gêneros alimentícios
· Milhões de pessoas sem acesso a infraestrutura básica de sobrevivência
Uma característica marcante nos movimentos foi a utilização da telefonia e da internet com seus programas de redes sociais, tanto da Tunísia quanto, atualmente, no Egito o Facebook e o Twiter foram utilizados para marcar os encontros em tempo real, informar sobre as manifestações e coibir atos de violência. As manifestações, através desses veículos, podem ser convocadas a qualquer momento, além de constantemente reforçadas.
O fato novo percebido nos recentes eventos é a participação de vários setores da sociedade. A organização coube a grupos emergentes da classe média que posteriormente recebeu a adesão dos sindicatos, grupos religiosos e da população em geral.
A revolução no Egito é, sem dúvida, a de maior importância. O país dos faraós é comandado por ditadores desde 1952 e o atual governante, Hosny Mubarak, está desde 1981 no poder. Sendo a maior nação árabe do mundo, 80 milhões de habitantes, o Egito possui uma importância estratégica, econômica e política para o mundo. Para os EUA o Egito é um parceiro que mantém acordos com Israel, equilibra as contendas entre o Hamas e o Fatah na Palestina e Mubarak controla, com mão-de-ferro, grupos extremistas e fundamentalistas do Islã. Mas o preço é alto, pois os americanos oferecem anualmente cerca de US$ 1,6 bilhão aos egípcios em ajuda militar e técnica, mas, por outro lado, sofrem com o ódio de grande parcela dos grupos fundamentalistas e escolas religiosas islâmicas.
A relevância econômica do Egito é o controle do canal de Suez, por este importante nó logístico passa uma parcela considerável do petróleo mundial. No último dia do mês de janeiro o barril foi cotado a US$ 100, resultado da instabilidade na região.
Para o mundo essas mudanças são recebidas de modo nebuloso, pois as potências globais viam e vêem nos regimes ditatoriais uma “segurança”, pois os ditadores faziam e fazem uma política pró-ocidente, mas deixavam e deixam a população em péssimas condições socioeconômicas.
As dúvidas e conseqüências são as mais diversas:
· Quem comandará o processo democrático? A sociedade civil ou grupos religiosos?
· Como se portarão as grandes potências? Apoiarão a população ou manterão o apoio aos ditadores?
· Há perigo de uma guerra civil?
As manifestações no Egito já deixaram 160 mortos. Os governos europeus e os EUA manifestaram, de modo tênue, apoio a população e pediram atos comedidos dos manifestantes e das autoridades egípcias. O exército egípcio declarou que não irá usar a força contra o movimento legítimo da população, esse fato é relevante, pois as forças armadas no país dão apoio aos governos desde 1952 e sinalizam certa insatisfação contra Mubarak.
“Todas as condições para uma revolução islâmica estão presentes no Egito de hoje: disparidades de rendas, conflitos nas elites, opressão religiosa e alienação política. Hosny Mubarak está no poder desde o assassinato de Anwar Sadat, em 1981; seu cargo anterior era de vice-presidente, função que deu um jeito de nunca mais preencher. Sua polícia secreta, a Mukhbarat, está sempre de olho nas cidades superpovoadas e agitadas, enquanto seu governo faz muito pouco para atender às suas necessidades básicas.” (KHANNA, 2008, pág. 263)
Esse relato de 2008 feito pelo analista político Parag Khanna é exemplar para o entendimento da latente problemática vivida pela população dos países árabes. Atualmente a população ganhou força através dos novos veículos de comunicação e no contato com toda comunidade mundial. Por outro lado os governos, mesmo tentando censurar os novos sistemas pouco podem fazer para conter os novos ares de mudança.
Mudanças sao benvindas, principalmente pra melhor. O problema é que a oposição mais bem organizada é a religiosa, e se assumir o poder, podemos trocar 6 por meia-duzia, um regime teocrático islâmico não combina com democracia, esse é o problema. Abraço
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