Você sentiu que o preço do pãozinho está mais caro? Já teve a curiosidade de perguntar para sua mãe, o quanto está custando um quilo de feijão?
Por mais que seja confortável a situação alimentar em seu lar, o mundo passa por uma gravíssima crise de abastecimento, pelo fato de que nos últimos três anos o preço dos alimentos cresceu mais de 80%.
O flagelo da fome voltou a rondar cerca de 900 milhões de pessoas, isto ocorre em um momento que os líderes políticos e as organizações mundiais diminuíam a desnutrição e a carestia mundial. Porém, com a forte inflação verificada nos alimentos, os programas nutricionais estão seriamente comprometidos.
Movimentos e tumultos ocorreram em vários países do mundo, desde 2008, principalmente nos mais pobres, em razão da falta e da alta dos preços dos gêneros básicos.
Até a China, economia que mais cresce no mundo, acusou problemas inflacionários para habitação e, principalmente, alimentação. Estudos revelaram que 74% dos chineses indicaram insatisfação pelo aumento dos custos de vida.
O Brasil como grande produtor mundial de alimentos e commodities agrícolas, também é influenciado pela pressão inflacionária internacional. A maior parte de seus produtos está diretamente pautada no mercado mundial, com exceção do feijão e do leite, a soja, o milho e o trigo são produtos comercializados e especulados no mercado externo, assim qualquer mudança fora do país é inerente a alteração interna.
Outro fator agravante é a produção agrícola, que está sendo direcionada para o setor energético. O Brasil, desde a década de 70, já produz álcool da cana-de-açúcar, porém, os EUA e Europa estão produzindo álcool retirado do milho e de oleaginosas, sendo que o milho pode ser diretamente empregado na alimentação.
A discussão da culpa da inflação dos alimentos é intensa e recheada de acusações tendenciosas e de desvio dos fatos reais. A preservação dos interesses, como sempre acontece, está presente em todos os lados da discórdia. Mas enquanto as discussões permanecerem, milhões de pessoas sofrem o pesado ônus da comida onerosa.
Um detalhe moderno é o aumento de países com elevação no índice da massa corporal, com exceção dos homens da África Central e do Sul da Ásia, todas as outras regiões tiveram aumento do IMC, este fato pode ser explicado porque uma parcela da população desses países aderiu a uma alimentação ocidentalizada e hábitos de vida mais sedentários. Esse novo panorama influenciou no aumento de problemas cardiorrespiratórios desses países.
Fome. Por toda a história, os humanos conviveram com a fome, porém nunca este mal pode ser considerado um fato natural, pois a carência alimentar é profícua em desestabilizar qualquer sociedade estabelecida e organizada.
Os aspectos básicos para a sobrevivência do ser humano estão em processo de capitalização, a água já se paga para tê-la (quando tem), o ar, poluído, gera custos altíssimos para tratamento de doenças respiratórias, sem contar o rodízio, porém a alimentação há muito tempo já está capitalizada. Portanto, só pode comer se existir dinheiro.
A Fome é um mal que pode ser diferenciado em dois tipos: a fome global ou energética, que é falta de carboidratos na alimentação diária, e a fome parcial ou específica, que é a falta de vitaminas, proteínas e sais minerais.
Os dois tipos de fome podem levar a terríveis conseqüências para os afetados pela carência alimentar. As pessoas que não ingerem carboidratos na quantidade suficiente podem sofrer o “marasmo”, a falta de proteínas, sais e vitaminas pode acarretar os mais diversos distúrbios e doenças (anemia, cegueira noturna, escorbuto, kwashiorkor).
A fome global está sendo sensivelmente diminuída, porém a fome parcial ataca com muita força cerca de 900 milhões de pessoas em todo mundo.
No livro “A Fome crise ou escândalo?”, Melhem Adas destaca que a fome é ocasionada pela péssima distribuição de renda e não pela falta de alimentos. Este fato é verificado na crise atual, segundo a FAO (Organização para a Agricultura e Alimentação), o mundo, atualmente, tem uma produção recorde de alimentos, porém o panorama socioeconômico se alterou.
Adas salienta quais as principais razões para a perpetuação da fome no planeta, são eles;
· Agricultura de Exportação X Agricultura de produtos Alimentares.
· Injusta estrutura fundiária e subaproveitamento da terra.
· Concentração das transnacionais na produção e distribuição dos alimentos.
· Revolução Verde e Agropoder.
· Gastos Militares dos países subdesenvolvidos.
Motivos da Crise Mundial de Alimentos. Atualmente, é inegável que o forte crescimento econômico mundial influenciou os preços das commodities. Os minérios, os recursos energéticos e os produtos agrícolas estão se valorizando a cada ano, assim todos os produtos da cadeia produtiva sofrem variação dos preços.
O peso dos alimentos sempre é mais sentido para a camada mais pobre da população, para os mais pobres, os gastos com a comida possuem uma porcentagem maior nos gastos básicos, por volta de 40% da renda dos mais pobres e 15% para o mais abastados.
A situação, em 2008, ficou insustentável, pois a população de muitos países protestou contra a terrível situação. Os movimentos foram mais intensos no México, Egito, Haiti, Camarões, Burkina Fasso, Indonésia e Moçambique. Atualmente, a crise na Tunísia, Egito e em todo mundo Árabe possui a alta no custo de vida, especialmente os alimentos, como indutora das manifestações e revoltas.
O Diretor Geral da FAO, Organização da ONU para agricultura e Alimentação, Jacques Diouf indica quais são as principais causas da elevação dos preços dos alimentos atualmente;
1. Nos últimos meses condições climáticas adversas, grande umidade ou seca, afetaram os principais países produtores de alimentos.
2. Aumento dos custos produtivos, pela elevação do petróleo.
3. Consumo maior verificado na China e Índia, além da mudança na dieta tradicional destes países, aumentando o consumo de leite e carne (para um quilo de carne de boi, são necessários de sete a oito quilos de grãos).
4. Uso de grãos para biocombustíveis, especialmente o milho nos EUA, mais de 100 milhões de toneladas foram utilizadas para fazer álcool.
5. Especulação financeira em bolsas de mercado futuro.
6. Subsídios dos países ricos que impedem investimentos nos países pobres, e não deixa criar ambiente estável para a produção agrária.
Uma acalorada discussão está desde 2008 sobre os biocombustíveis, o presidente do FMI, Dominique Strauss-Kahn afirmou: “Quando produzimos biocombustíveis de produtos não usados como alimentos, tudo bem. Mas, quando eles são feitos de produtos alimentícios, isso representa sério problema moral”.
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, indicou na semana passada que o G20 tem que conter a alta dos alimentos, pois a inflação nos preços de alimentos pode gerar instabilidade econômica, carestia e “motins de fome”.
O álcool e o biodiesel produzidos nos EUA e na Europa através do milho, girassol e outras sementes, foram fortemente criticados, pois estas culturas são diretamente utilizadas para a alimentação.
Porém as críticas também foram direcionadas para a produção de álcool no Brasil, através da cana-de-açúcar. Os críticos alertam que a cana sobrepujou áreas que poderiam produzir alimentação, assim o Brasil estaria agravando o problema dos alimentos.
Rapidamente, na época, o governo Lula contra-atacou, e demonstrou que a cana não traz os mesmos prejuízos dos produtos do hemisfério norte. O governo sustenta que a área da cana é 1% das áreas agricultáveis do país, assim não chega a pressionar outras culturas, também salienta que a cana, não é diretamente um produto alimentício.
No Brasil a cesta básica no último mês aumentou em 14 das 17 capitais pesquisadas, em São Paulo a cesta custa R$ 262,00. O DIEESE, Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos, afirmou que o salário mínimo de veria ser de R$ 2.196,00 para cobrir as necessidades básicas de uma família, 4 vezes a mais que o salário mínimo real. Esse valor em janeiro de 2010 era de R$ 1.987,00, comprovando a inflação no período.
Conclusão. A discussão é salpicada de meias verdades, pois em todos os argumentos apresentados se encontram respostas para a crise.
O governo brasileiro e o Secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon, sustentam que os maiores culpados são o crescimento do consumo mundial e o protecionismo dos países ricos, que desestabilizam o mercado, e monopolizam os possíveis investimentos para os países pobres.
O argumento dos países mais ricos sobre os biocombustíveis é até certo ponto sensato, porém não é o único. As empresas multinacionais que controlam a comida no mundo e os fundos de investimentos que especulam com as commodities, oferecem fortes causas para a crise mundial.
A crise da alimentação tem que ser tratada de modo urgente e não apenas paliativa, pois todos os líderes e pesquisadores apontam que a alta deve durar até 10 anos, mesmo com a forte crise de 2009. Os governos de Inglaterra e França já disponibilizaram quase R$ 1 bilhão para aprimorar a agropecuária dos países mais afetados, porém seria mais racional mexer em suas políticas de subsídios.
Muitos países exportadores já mexeram em suas políticas de abastecimento para impedir exportações e regularizar os estoques internos (Argentina, Indonésia, Filipinas, Tailândia, China e Índia), com intuito de impedir a falta de alimentos no mercado interno.
O mais impressionante é a rapidez na resolução dos problemas internacionais, quando o socorro é para as instituições financeiras internacionais, a agilidade é ímpar, porém para a solução da fome mundial a morosidade é o tema principal.
O Brasil pode ganhar com esta crise, pois possui terras para rapidamente adequar seus estoques, e ainda aproveitar os preços elevados no mercado externo, porém o governo deve regulamentar e direcionar as produções de caráter primordial para a população. Com a alta nos preços das commodities o valor da terra no Brasil teve um aumento significativo nos últimos meses. Apenas em São Paulo o valor do hectare dobrou. O perigo do aumento do valor fundiário é o aumento do custo em toda cadeia produtiva, consequentemente, o custo do alimento pode permanecer alto.
Enquanto a crise não passa o jeito é diminuir a comida e diversificar os alimentos, pois o pãozinho e o feijão continuarão caros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário