domingo, 27 de março de 2011

Parabéns Mercosul

            No dia 26 de março o Mercosul completou 20 anos. O Tratado de Assunção assinado em 1991 entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai ratificou o sonho de um Conesul mais unido nos aspectos socioeconômicos. Após 20 anos, como em todos relacionamentos, foram situações de desgaste, mas com significativos progressos.  
            O Mercosul faz parte de uma tendência econômica iniciada nos anos 90. Logo após o colapso da URSS, líder do mundo socialista, o capitalismo tornou-se um sistema hegemônico. Poucos países continuaram socialistas, mas mesmo tendo um regime de forte controle estatal abriram seus mercados para regalarem-se com os dólares do mercado mundial.
            Com o mercado sem barreiras ideológicas, que impediam as transações econômicas, os países e empresas sentiram o grande potencial do mercado global. Mas outros tipos de barreiras se impuseram para guarnecerem os interesses de cada país. O protecionismo de várias formas ascendeu violentamente e o sonho de um mercado livre virou um pesadelo para a Organização Mundial do Comércio (OMC), criada em 1995.
             Com o intuito de aproveitar uma extensão maior de comércio e um incremento no mercado consumidor uma alternativa foi encontrada, os Blocos Econômicos.Os mercados regionais receberam forte apoio de países que queriam maior abertura, mas tinham medo de uma forte concorrência global. Assim muitas áreas efetivaram blocos econômicos.
            A regionalização é um processo antigo e conhecido desde o renascimento comercial na Europa. A própria Europa saiu na frente com a criação do Mercado Comum Europeu em 1957 e depois em 1991 com União Européia.
            Outros blocos foram formados pelo mundo, são exemplos; NAFTA (EUA, Canadá e México), Pacto Andino (Países dos Andes), MCCA, CAFTA e CARICOM (América Central), APEC (Países da bacia do Pacífico), União Africana e ASEAN (Países do Sudeste Asiático)
            Como não poderiam ficar para trás em 1991 os países do Conesul firmaram um acordo para a criação do Mercado Comum do Sul, Mercosul.
            Muitas foram as tentativas de reunir toda América da Latina num grupo mais coeso e tentar um desenvolvimento sem depender das grandes potências, mas todas ações foram ineficazes em razão da grande dependência para com os mais ricos.
            O Mercosul continua a padecer dos mesmos problemas dos velhos sonhos. Mas avanços foram conquistados e novos problemas postos. Os distúrbios são normais e existem em todos os blocos. Para a evolução do agrupamento a boa vontade, o equilíbrio e a estabilidade são necessários para um desenvolvimento promissor.

Diferenças dos Acordos Comerciais
·         Acordo de Livre Comércio = As tarifas entre os membros são zeradas, mas acordos com outros países podem ser feitos. Ex.: NAFTA
·         União Aduaneira = Além da ALC os países colocam uma Tarifa Externa Comum (TEC) para transações com outros Blocos. Ex.: Mercosul
·         ME
·         Mercado Comum = ALC + TEC e quatro grandes liberdades (serviços, produtos, capital e pessoas)
·         União Total = É um acordo que contém a ALC + TEC + quatro liberdades e uniões de caráter migratório, civil, trabalhista, criminal e de toda estrutura econômica, chegando à união monetária. Ex.: União Européia

Histórico    O Mercosul nasceu das aproximações entre Brasil e Argentina na década de 80. Após as rixas nas ditaduras dos governos militares dos dois países, os governos civis iniciaram acordos de aproximação. Raul Alfonsin e José Sarney efetivaram tratados bilaterais e deram rumo ao acordo que iria ser ratificado em 1991 no Paraguai. Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai assinaram o Tratado de Assunção dando início ao Mercosul.
            A União Aduaneira foi acertada desde o início, mas foi implantada em 1994 com o acordo de Ouro Preto. A TEC até hoje não foi universalizada no bloco, por problemas de inadequação dos setores produtivos. Nos diversos países cada grupo produtivo tem uma pauta e cronograma para a vigência da TEC.
            Em 1996 Chile e Bolívia entraram como membros associados, não aderindo a TEC. No ano de 2004 foi a vez de Colômbia, Equador e Peru entrarem como membros associados.
            Os benefícios do bloco são inegáveis, em 1991 os valores das relações entre os países do bloco eram de US$ 5 bilhões, em 1998 foi de US$ 25 bilhões e finalmente em 2010 chegou a US$ 48 bilhões.
            Um passo significativo foi dado em agosto de 2006 com o pedido de entrada da Venezuela como membro. O país de Hugo César Chavez é o 5º maior exportador de petróleo, mas o que chama atenção é sua política estatizante e seu discurso contra os EUA. A entrada da Venezuela dá notabilidade política e possíveis acordos de segurança energética, mas ainda é obscuro se a sua política bolivariana não trará sérios problemas para o Bloco, inclusive de caráter democrático.
            Os parlamentos de Brasil, Argentina e Uruguai já deram o aval a entrada da Venezuela, mas os paraguaios barraram a votação, pois não concordam com a postura de Chavez.

Números do Bloco
  • Brasil       PIB = US$ 1,7 trilhão
                                 População = 191 milhões
                                 IDH = 0,792

  • Argentina PIB = US$ 309 bilhões
                                  População = 37 milhões
                                  IDH = 0,86

  • Venezuela PIB = US$ 326 bilhões
                    População = 29 milhões
                                  IDH = 0,78
                                  (em processo de adesão)

  • Paraguai   PIB = US$ 15 bilhões
                          População = 6,5 milhões
                          IDH = 0,757

  • Uruguai   PIB = US$ 36 bilhões
                         População = 3,5 milhões
                          IDH = 0,851

Principais características
·         Exportações do bloco em 2010 somaram US$ 280 bilhões, intrazona foi de US$ 48 bilhões.
·         Crescimento do PIB dos membros foi de 8% em média.
·         Influências: Transnacionalização de empresas, desenvolvimento do agronegócio e indústria.
·         Acordos comerciais com Israel, África do Sul e Índia.
·         Apoio incondicional a Democracia.
·         270 empresas brasileiras estão produzindo e prestando serviços na Argentina, driblando as barreiras impostas pelo governo argentino.
·         4º maior Bloco do mundo
  
Frustrações      
  • Aumento das barreiras protecionistas por parte da Argentina, impedindo a invasão de produtos brasileiros no mercado platino.
  • Como Paraguai e Uruguai possuem uma frágil industrialização são dadas a eles regalias para importação de maquinário e produtos, porém nos últimos anos o Brasil vem apresentando robusto crescimento e auxiliando as vendas desses dois países.
Conclusão 
Os mesmos problemas que a América Latina sempre enfrentou para a integração do continente, hoje, o Mercosul também enfrenta.
            A infraestrutura é baixíssima e inviabiliza a integração destes países. A fragilidade econômica é aparente e os países anualmente sofrem desequilíbrios de crescimento com ações loucas para a salvação de suas desequilibradas economias.
             Outro ponto de forte discórdia é o crescimento das esquerdas latino-americanas financiadas por Chavez. Os programas de estatizações e nacionalizações por que passam Venezuela e Bolívia assustam o mercado financeiro mundial e podem contaminar as economias que optaram por outro caminho.
            O conflito entre os parceiros menores com os maiores pode fragilizar o Mercosul. Paraguai e Uruguai acenam à possibilidade de fazerem acordos mais promissores com os EUA. Na última semana o presidente Lula visitou seu companheiro Tabaré Vasquez, presidente do Uruguai para propor uma série de medidas. A aproximação destes países com a potência do norte pode trazer sérias conseqüências para a manutenção do bloco.
            O Mercosul foi um grande avanço econômico para Brasil e Argentina, toda menção negativa ao bloco deve ser olhada com ressalva, pois a reunião destes países nunca foi tão intensa e positiva.
            A entrada de novos membros é bem-vinda e extremamente positiva, o fortalecimento da regionalização com a entrada da Venezuela é notável, especialmente pela potencial energético que representa. Mas os discursos e ações extremistas feitas por Chavez e seus parceiros podem atrapalhar o comércio com áreas de importância estratégica para o Mercosul que são Europa e EUA.
            O governo brasileiro deve tomar uma posição de equilíbrio no direcionamento econômico da nação. O país sofreu com a nacionalização do gás boliviano e não pode sofrer com os discursos pirotécnicos dos vizinhos. A economia brasileira está dando os primeiros passos na internacionalização e estabilidade econômica.
            O tipo de política esquerdista feita na Venezuela, Bolívia, Equador e até a Argentina, que está em ano eleitoral, não serve de modo algum para os interesses do Brasil, além dessa política afetar em muito a já debilitada democracia desses países. 
            A economia da única nação que fala o português no continente necessita muito de seus vizinhos, mas o Brasil não pode perder a oportunidade de manter e aumentar suas relações com países e blocos mais desenvolvidos.                             

sábado, 19 de março de 2011

Tragédia Constante

   Parece que realmente o Brasil é o país do automóvel. Este título não é só porque aqui temos muitos campeões no automobilismo ou de termos a maior parte da matriz de transporte composta pelo sistema rodoviário. Para reforçar o título, o Brasil no ano de 2010 bateu o recorde de produção de automóveis da sua história, mais de 3,5 milhões de unidades.   
   Tudo seria muito louvável e mereceria comemoração, pois o Brasil no ano passado ultrapassou a Alemanha e já é o 4º maior mercado de automóveis no mundo, porém, o crescimento do setor automotivo está acompanhado por uma tamanha desgraça para os cidadãos brasileiros. O carnaval de 2011 foi o que mais matou na década.
    Os acidentes no trânsito vitimam cerca de 35 mil pessoas por ano no país. Os motivos são os mais diversos, desde a baixíssima infra-estrutura do país, até a irresponsabilidade dos motoristas. Apenas no feriado de carnaval de 2011, 213 morreram nas estradas federais, um aumento de 47% em relação ao carnaval do ano passado. Os acidentes chegaram a 4165, quase o dobro do horroroso recorde de 2203 no ano de 2003.   
     Neste texto iremos discutir o avanço da indústria automobilística, e a mortandade que ocorre no sistema rodoviário do Brasil.

Setor automotivo. O ano de 2010 foi espetacular para indústria automobilística que acompanhou o crescimento do PIB o qual cresceu 7,6% . Com um aumento de 13% em relação a 2009, 3,6 milhões de automóveis (automóveis, ônibus, camionetes e caminhões)  foram vendidos no país. A indústria automotiva utilizou cerca de 80% de sua capacidade produtiva, para alimentar as vendas nas concessionárias.
    O setor automotivo é de grande importância para economia de uma nação. A cadeia produtiva pode alavancar não apenas o setor secundário, mas toda economia nacional.
    No Brasil, os automóveis são responsáveis por 23% do PIB industrial e cerca de 5% de todo o PIB do país (US$ 60 bilhões). Os empregos gerados, diretos e indiretos, são notáveis, 1,3 milhão de pessoas estão ligadas a esse setor. Esses empregos estão espalhados pelas montadoras, empresas de autopeças e concessionárias, somadas chegam a 200 mil empresas.
    A produção de veículos em massa no Brasil teve início na década de 50, poucos países apresentam plantas automotivas tão sólidas e produtivas. As empresas estão presentes em 8 Estados e possuem 25 unidades de produção, 27 municípios dependem dos impostos e consumos gerados pelas indústrias (R$ 27 bilhões em impostos).
    Os trabalhadores, conhecidos como metalúrgicos, são os mais bem remunerados do setor secundário. A faixa salarial possui uma média de R$ 2500  no grande ABC, atualmente, poucos metalúrgicos encontram-se desempregados.
    O Brasil possui uma frota de 56 milhões de veículos. O tráfego, mesmo em cidades de médio porte, está cada vez mais intenso e caótico. Especialistas afirmam que em menos de cinco anos, a cidade de São Paulo sofrerá um “apagão” em seu tráfego, a menos que investimentos no transporte público sejam feitos . A cada dia são licenciados 80 veículos na capital paulista.
    Os motivos para esse aumento nas vendas, 10% em relação a 2009, são explicados pela estabilidade econômica, crescimento da renda, facilidade do crédito e extensão do período de pagamento (até 84 meses).  
              
    Infraestrutura. Porém, apesar de todo crescimento das vendas e arrecadação tributária, a infra-estrutura não se adequou, o quadro ficou e está caótico.
   A matriz de transportes do Brasil é uma das mais caóticas do mundo, e possui uma composição totalmente antieconômica e irracional. O sistema rodoviário é responsável por 60% da carga do Brasil, a ferrovia, adequada para grandes distâncias e para o transporte em massa de passageiros, representa 24% da matriz do país.
    O Brasil pouco utiliza a riqueza hidrográfica presente em seu território. Apenas 14% das cargas trafegam por rios e litoral. O restante das cargas são levadas por dutos e aviões.
    Por este quadro já se denota a fraqueza e instabilidade da economia nacional, mas ele se mescla com a circulação das pessoas. Com o aumento da venda dos veículos e aumento dos rendimentos da população em geral, as vias ficaram super lotadas e não receberam nenhum preparo para a nova configuração.
    As rodovias possuem 1,7 milhão de km no Brasil. Apenas 10% destas estradas são pavimentas, e delas somente 20% estão em razoável estado de conservação. O atraso e prejuízos para a economia e sociedade são mensuráveis na casa dos bilhões de reais.
    Nos últimos anos foram tenebrosos para os usuários dos serviços aéreos, além dos acidentes, os atrasos e descasos do governo e das companhias, enfatizaram os problemas de nossa infra-estrutura.
    O apagão aéreo auxiliou o abarrotamento das estradas, pois muitas pessoas temendo os atrasos e perdas das férias optaram nos últimos anos por utilizarem as rodovias.

   Tragédia rodoviária.  Os números são de guerra, 35 mil pessoas são mortas pelos acidentes de trânsito ao ano. Deste número, 2/3 deles são ocorridos nas ruas das cidades brasileiras.
    O carnaval de 2011 não teve nenhum motivo para comemorar, 213 pessoas morreram nas estradas federais e 23 nas estradas do Estado de São Paulo. Estes números são superiores aos do ano de 2010, lembrando que o carnaval é o pior momento de cada ano.
   O palco da tragédia é sem duvida nenhuma, a baixíssima infra-estrutura rodoviária. Pistas mal conservadas, mal sinalizadas, invasão de bairros em áreas de autopista e baixa porcentagem de pavimentação, são elementos indutores para a tragédia nacional.
    Porém, os atores que circulam por este palco são em grande parte, os responsáveis pelos desastres automobilísticos. Todos os especialistas (policiais rodoviários e engenheiros de tráfego) são unânimes em dizer, que a maioria dos acidentes, são por imprudência dos motoristas.
    O crescimento não só promoveu o aumento da venda dos veículos, mas fomentou a venda de bebidas alcoólicas e viagens. A profunda falta de respeito pelas leis de trânsito e o consumo inadequado de bebidas alcoólicas foram os maiores motivos para a ratificação da tragédia.
    Todos sabem do baixíssimo nível da educação brasileira, esta carência é estampada nos números desastrosos. A falta de responsabilidade e de respeito pelo próximo perpassa pela baixa educação, moral e ética do povo brasileiro.
    Em um exercício de pensamento, podemos chegar à conclusão que a falta de infra-estrutura sempre é um fortíssimo fator para explicar este triste fenômeno. Porém, a educação do cidadão, as leis coercitivas e o aparelho repressor são, também, elementos prioritários do cuidado governamental em um país.
    Mesmo com o lucro recorde na arrecadação de impostos, o governo pouco aumentou os investimentos e a intenção de melhorar o sistema rodoviário brasileiro.

domingo, 13 de março de 2011

Uma catástrofe; três mundos

            Desde janeiro do ano passado o mundo ficou assustado com a intensidade dos tremores vindo dos movimentos das placas tectônicas. Os grandes terremotos e maremotos são fenômenos naturais que não dependem da influência do homem, deste modo, os seres humanos pouco podem fazer para prever quando e qual a intensidade que os terremotos irão atuar.
            Mas os tremores ocorridos no Haiti (janeiro de 2010), Chile (fevereiro de 2010) e no Japão (março de 2011) demonstram diferenças socioeconômicas significativas, de como os desastres naturais podem afetar a sociedade e como os tremores podem ser mais ou menos letais.
            Os abalos sísmicos são provocados pelo movimento e choque das placas tectônicas, as áreas mais suscetíveis são as que estão localizadas sobre os limites das placas, mas outras áreas podem ser afetadas pela acomodação geológica e reflexos de tremores.
            A intensidade e a letalidade dos tremores estão relacionadas com a magnitude dos tremores, a estrutura sedimentar, as construções civis e a aglomeração de pessoas. A escala Richter é usada desde 1935 e as medições e conseqüências dos tremores são avaliadas desde o final do século XIX.
            O três acidentes indicam como uma catástrofe natural pode explicitar as diferenças e o a distância de desenvolvimento no mundo.            

Haiti. A Ilha de Hispaniola está localizada em uma falha geológica na fronteira das placas caribenha e norte-americana, deste modo a região é predisposta a instabilidade tectônica.
Na tarde de 12 de janeiro de 2010 um sismo de 7 graus na escala Richter, com o epicentro a 25 km de Porto Príncipe (2 milhões de hab.) deixou a capital e muitas outras cidades literalmente no chão. Prédios e moradias caíram como papel e as áreas urbanas, já arrasadas pela pobreza, tornaram-se uma área de entulhos.
            O governo autorizou que milhares de mortos fossem enterrados em valas comuns, pois a carência de caixões, a falta de pessoas para realizar os sepultamentos e o medo do alastramento de doenças ficou acima do enterro digno.
            Equipes de todas as partes do mundo auxiliaram nos resgates, o amparo veio através de recursos financeiros, apoio técnico, medicamentos, alimentos e equipes de resgate. Mesmo com toda a ajuda internacional os mortos chegaram a 230 mil pessoas, praticamente igualando número de mortos que o tsunami de 2004.
     
Chile. No dia 25 de fevereiro de 2010 a região centro-sul do Chile sofreu um terremoto de 8,8 graus na escala Richter, o tremor deixou 800 mortos, 20 mil desabrigados e um prejuízo econômico de US$ 30 bilhões. O pior tremor registrado no mundo ocorreu no Chile em 1960 que atingiu 9,5 graus na escala Richter causando a morte de 2000 pessoas.
            O presidente Sebastian Piñera, empossado poucos dias após o terremoto, herdou, tristemente, o custo dessa enorme catástrofe, a equipe de governo teve que mudar rapidamente o plano de gastos públicos com um corte de US$ 700 milhões, e criar um fundo de US$ 12 bilhões para a reconstrução o país.  

Japão. No dia 11 de janeiro o nordeste do Japão foi assolado com um tremor de 9 pontos na escala Richter. Posteriormente, o tremor com epicentro a 130 km da cidade de Sendai, provocou um tsunami que foi devastador para as cidades litorâneas que já haviam sido atingidas pelos tremores. Autoridades japonesas, até o momento, confirmaram 1700 mortos pelos fenômenos.  Porém, vilarejos inteiros foram engolidos pela onda gigante e o número de mortos pode alcançar 10 mil vítimas fatais.  
            A infraestrutura japonesa é muito eficiente para mitigar os problemas causados por terremotos, mas uma infraestrutura para minimizar os impactos de um maremoto (tsunami) é muito cara e demanda complexos recursos de engenharia. Mesmo assim, a melhor estrutura para enfrentar esse tipo de catástrofe está no Japão, se não fosse essa mínima engenharia o desastre seria muito maior. Os japoneses gastam US$ 20 milhões por ano para o sistema de aviso das ondas gigantes.  
            Os tremores atingiram áreas com usinas nucleares, um dia após os tremores o prédio de contenção que envolve o reator nuclear de Fukushima explodiu em razão da enorme pressão do vapor d’água com baixa radiação. As autoridades japonesas, a Agência Internacional de Energia Atômica e a Organização Mundial da Saúde emitiram notas que o vazamento é baixo e foi controlado.
            Mas, como prevenção, medidas foram aplicadas na região do acidente para proteger a população, tais como: deslocamento de 170 mil pessoas, prontidão para a distribuição de pílulas de iodo, resfriamento e paralisação dos reatores e proibição da utilização da água encanada.
            A energia nuclear é responsável por 33% da geração de eletricidade no Japão, o país depende desse tipo de energia, pois é carente e depende da importação de recursos energéticos. A energia nuclear foi escolhida devido à alta produtividade e utilização de pequenos espaços para a produção.  O governo japonês determinou racionamento de energia e pediu ao povo economia e parcimônia na utilização dos recursos básicos.   


Três Mundos
            Os três acidentes deixaram estampadas as diferenças socioeconômicas ainda persistentes no mundo. Os sismos foram de grande magnitude, mas o efeito deles em cada população foi de enorme diferença.
            O epicentro do terremoto no Haiti foi muito próximo a capital Porto Príncipe, região muito populosa, entretanto as construções e a pobreza potencializaram a catástrofe. O país caribenho é o mais pobre das Américas, analistas afirmam que o país só se reerguerá com substancial auxílio internacional e sua sobrevivência sempre estará atrelada a agências e governos externos.
            O Chile apresenta um quadro de desenvolvimento econômico social desde os anos 90. O emergente país andino é o primeiro na lista para entrar no mundo desenvolvido na América Latina. O terremoto ocorrido em fevereiro de 2010 atingiu áreas não tão populosas, como a capital Santiago, mas o tremor foi de grande magnitude e vitimou 800 pessoas. Os chilenos, desde 1984, possuem severas regras de construção civil e preparo para enfrentar os sismos, esse preparo foi amparado pelo crescimento econômico das últimas décadas.
            No topo dessa lista de países preparados para enfrentar tremores está o Japão. No território nipônico ocorrem 14% dos tremores no mundo. O arquipélago está localizado no chamado círculo ou anel de fogo do Pacífico, em sua área está o encontro de três placas tectônicas. Em toda sua história o país teve que conviver com terremotos vulcanismo e tsunamis, assim o preparo, prevenção e educação foram direcionados para minimizar os efeitos tectônicos.
            O Japão possui a melhor e mais moderna infraestrutura para esses tipos de acidentes, enormes recursos são gastos em prevenção e treinamentos, o tremor ocorrido dia 11 foi de 9 pontos na escala Richter, seguido de tsunami e réplicas de tremores. As mortes, até o momento, passaram de 1700 pessoas, esse número para o padrão japonês é elevado. No histórico das tragédias sísmicas, outros tremores foram mais letais, entretanto o primeiro ministro Naoto Kan pronunciou que os incidentes do dia 11 foram os piores desde a 2ª Guerra Mundial devido a complexidade, áreas atingidas, setores da economia e mortes.
            As três catástrofes demonstraram as diferenças socioeconômicas em escala planetária. Nos três países afetados a comunidade internacional se mobilizou para amparar as vítimas. Japão e Chile, certamente, a recuperação será e está sendo mais rápida. Por outro lado no Haiti a recuperação, após um ano, é pouco visível e o país parece estar parado no dia seguinte
ao tremor.