sábado, 19 de março de 2011

Tragédia Constante

   Parece que realmente o Brasil é o país do automóvel. Este título não é só porque aqui temos muitos campeões no automobilismo ou de termos a maior parte da matriz de transporte composta pelo sistema rodoviário. Para reforçar o título, o Brasil no ano de 2010 bateu o recorde de produção de automóveis da sua história, mais de 3,5 milhões de unidades.   
   Tudo seria muito louvável e mereceria comemoração, pois o Brasil no ano passado ultrapassou a Alemanha e já é o 4º maior mercado de automóveis no mundo, porém, o crescimento do setor automotivo está acompanhado por uma tamanha desgraça para os cidadãos brasileiros. O carnaval de 2011 foi o que mais matou na década.
    Os acidentes no trânsito vitimam cerca de 35 mil pessoas por ano no país. Os motivos são os mais diversos, desde a baixíssima infra-estrutura do país, até a irresponsabilidade dos motoristas. Apenas no feriado de carnaval de 2011, 213 morreram nas estradas federais, um aumento de 47% em relação ao carnaval do ano passado. Os acidentes chegaram a 4165, quase o dobro do horroroso recorde de 2203 no ano de 2003.   
     Neste texto iremos discutir o avanço da indústria automobilística, e a mortandade que ocorre no sistema rodoviário do Brasil.

Setor automotivo. O ano de 2010 foi espetacular para indústria automobilística que acompanhou o crescimento do PIB o qual cresceu 7,6% . Com um aumento de 13% em relação a 2009, 3,6 milhões de automóveis (automóveis, ônibus, camionetes e caminhões)  foram vendidos no país. A indústria automotiva utilizou cerca de 80% de sua capacidade produtiva, para alimentar as vendas nas concessionárias.
    O setor automotivo é de grande importância para economia de uma nação. A cadeia produtiva pode alavancar não apenas o setor secundário, mas toda economia nacional.
    No Brasil, os automóveis são responsáveis por 23% do PIB industrial e cerca de 5% de todo o PIB do país (US$ 60 bilhões). Os empregos gerados, diretos e indiretos, são notáveis, 1,3 milhão de pessoas estão ligadas a esse setor. Esses empregos estão espalhados pelas montadoras, empresas de autopeças e concessionárias, somadas chegam a 200 mil empresas.
    A produção de veículos em massa no Brasil teve início na década de 50, poucos países apresentam plantas automotivas tão sólidas e produtivas. As empresas estão presentes em 8 Estados e possuem 25 unidades de produção, 27 municípios dependem dos impostos e consumos gerados pelas indústrias (R$ 27 bilhões em impostos).
    Os trabalhadores, conhecidos como metalúrgicos, são os mais bem remunerados do setor secundário. A faixa salarial possui uma média de R$ 2500  no grande ABC, atualmente, poucos metalúrgicos encontram-se desempregados.
    O Brasil possui uma frota de 56 milhões de veículos. O tráfego, mesmo em cidades de médio porte, está cada vez mais intenso e caótico. Especialistas afirmam que em menos de cinco anos, a cidade de São Paulo sofrerá um “apagão” em seu tráfego, a menos que investimentos no transporte público sejam feitos . A cada dia são licenciados 80 veículos na capital paulista.
    Os motivos para esse aumento nas vendas, 10% em relação a 2009, são explicados pela estabilidade econômica, crescimento da renda, facilidade do crédito e extensão do período de pagamento (até 84 meses).  
              
    Infraestrutura. Porém, apesar de todo crescimento das vendas e arrecadação tributária, a infra-estrutura não se adequou, o quadro ficou e está caótico.
   A matriz de transportes do Brasil é uma das mais caóticas do mundo, e possui uma composição totalmente antieconômica e irracional. O sistema rodoviário é responsável por 60% da carga do Brasil, a ferrovia, adequada para grandes distâncias e para o transporte em massa de passageiros, representa 24% da matriz do país.
    O Brasil pouco utiliza a riqueza hidrográfica presente em seu território. Apenas 14% das cargas trafegam por rios e litoral. O restante das cargas são levadas por dutos e aviões.
    Por este quadro já se denota a fraqueza e instabilidade da economia nacional, mas ele se mescla com a circulação das pessoas. Com o aumento da venda dos veículos e aumento dos rendimentos da população em geral, as vias ficaram super lotadas e não receberam nenhum preparo para a nova configuração.
    As rodovias possuem 1,7 milhão de km no Brasil. Apenas 10% destas estradas são pavimentas, e delas somente 20% estão em razoável estado de conservação. O atraso e prejuízos para a economia e sociedade são mensuráveis na casa dos bilhões de reais.
    Nos últimos anos foram tenebrosos para os usuários dos serviços aéreos, além dos acidentes, os atrasos e descasos do governo e das companhias, enfatizaram os problemas de nossa infra-estrutura.
    O apagão aéreo auxiliou o abarrotamento das estradas, pois muitas pessoas temendo os atrasos e perdas das férias optaram nos últimos anos por utilizarem as rodovias.

   Tragédia rodoviária.  Os números são de guerra, 35 mil pessoas são mortas pelos acidentes de trânsito ao ano. Deste número, 2/3 deles são ocorridos nas ruas das cidades brasileiras.
    O carnaval de 2011 não teve nenhum motivo para comemorar, 213 pessoas morreram nas estradas federais e 23 nas estradas do Estado de São Paulo. Estes números são superiores aos do ano de 2010, lembrando que o carnaval é o pior momento de cada ano.
   O palco da tragédia é sem duvida nenhuma, a baixíssima infra-estrutura rodoviária. Pistas mal conservadas, mal sinalizadas, invasão de bairros em áreas de autopista e baixa porcentagem de pavimentação, são elementos indutores para a tragédia nacional.
    Porém, os atores que circulam por este palco são em grande parte, os responsáveis pelos desastres automobilísticos. Todos os especialistas (policiais rodoviários e engenheiros de tráfego) são unânimes em dizer, que a maioria dos acidentes, são por imprudência dos motoristas.
    O crescimento não só promoveu o aumento da venda dos veículos, mas fomentou a venda de bebidas alcoólicas e viagens. A profunda falta de respeito pelas leis de trânsito e o consumo inadequado de bebidas alcoólicas foram os maiores motivos para a ratificação da tragédia.
    Todos sabem do baixíssimo nível da educação brasileira, esta carência é estampada nos números desastrosos. A falta de responsabilidade e de respeito pelo próximo perpassa pela baixa educação, moral e ética do povo brasileiro.
    Em um exercício de pensamento, podemos chegar à conclusão que a falta de infra-estrutura sempre é um fortíssimo fator para explicar este triste fenômeno. Porém, a educação do cidadão, as leis coercitivas e o aparelho repressor são, também, elementos prioritários do cuidado governamental em um país.
    Mesmo com o lucro recorde na arrecadação de impostos, o governo pouco aumentou os investimentos e a intenção de melhorar o sistema rodoviário brasileiro.

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