Após a queda de Hosni Mubarak, ex ditador do Egito desde 1981, na última semana, a onda de mudanças não para. O cerco, desta vez, fechou para o ditador líbio Muamar Kadafi que está no controle do país desde 1969. Ainda na semana passada manifestações se intensificaram no Iêmen, Omã, Bahrein e Argélia, além da abertura de negociações e medidas compensatórias no Marrocos e na Arábia Saudita, com a intenção das casas reais amenizarem as insatisfações populares.
Todas essas manifestações e revoltas têm motivos em comum, pois os manifestantes vivem problemas com a falta de liberdades socioeconômicas, corrupção, governos ditatoriais e são rondados pelo desemprego. Entretanto no movimento líbio a vontade de participação e liberdade sociais são os, principais, combustíveis para ira contra o opressor Kadafi. O país está na 53º posição do IDH, o mais alto do continente africano, Kadafi universalizou a educação e a saúde pública, também aplicou recursos na infraestrutura do país.
O mesmo se repete no Bahrein que nos últimos anos passou por grande modernização econômica e social, esta monarquia está localizada no Golfo Pérsico com 750 mil habitantes e é exportadora de petróleo. Nesse país a elite sunita governa a maioria xiita, sendo que os revoltosos denunciam uma péssima distribuição dos dividendos do petróleo, assim beneficiando a minoria comandante sunita.
Os confrontos verificados, nos últimos dias, na Líbia provaram que a população árabe não está sendo mobilizada apenas pelas carências e necessidades básicas. O movimento tomou corpo na contestação e legitimidade dos ditadores que há anos comandam os países com a mistura da capa de grande pai da nação, protetor dos interesses de todos e provedor universal, mas suas entranhas são formadas pela censura, violência e liderança déspota.
A Líbia possui 1,7 milhão de km2, conta com 2 mil km de litoral no mediterrâneo, onde está concentrada grande parte da população. A parte centro sul do país é influenciada pelo clima árido do deserto do Saara. Os 6,4 milhões de habitantes são compostos por 97% de árabes líbios e 3 % de berberes e imigrantes, atraídos pelo complexo petrolífero.
Por sua localização estratégica o território foi influenciado e colonizado por várias civilizações e impérios, entre os que usufruíram de Trípoli estão; fenícios, cartagineses, romanos e por fim turcos otomanos (1517-1911). Os italianos, após 1911 até a 2ª guerra mundial, agregaram regiões e formaram o atual território líbio. O controle após a 2ª guerra mundial passou para os ingleses e franceses, que comandaram a independência dando os poderes para o rei Idris I. No ano de 1959 foram descobertas enormes reservas de petróleo mudando o panorama econômico do país, além de atrair o interesse externo. Até hoje o petróleo compõe 90% das exportações líbias.
Muamar Kadafi, motivado pelas ideias do egípcio Gamal Abdel Nasser, tomou o poder em 1969 com 28 anos de idade, a partir desse momento iniciou um governo, por ele auto denominado Jamahiriya Árabe, posição ideológica que mistura socialismo, tribalismo e islamismo. Todas as suas ideias estão escritas no livro verde, obrigatório nas escolas líbias.
Seu estilo de governo ditatorial e confrontador financiou redes terroristas e separatistas na Europa, o mais sério atentado ocorreu em Lockerbie (1988), na Escócia, onde um avião da Pan Am explodiu matando 270 pessoas, Kadafi em 1999 confessou sua participação e entregou os responsáveis diretos pelo ataque a um tribunal internacional. Após esse episódio as sanções internacionais foram retiradas e o ditador líbio foi intensamente cortejado pelas nações sedentas por petróleo líbio.
Itália e Inglaterra se aproximaram de Kadafi para importar petróleo e investir na extração dos 46 bilhões de barris presentes no território da Líbia. Em 2010 os ingleses deram liberdade para o principal suspeito do atentado de Lockerbie, no mesmo mês a British Petroleum (BP) começou a operar em um mega campo na Líbia.
O ditador, aos olhos das potências ocidentais, foi, nos últimos dez anos, um grande aliado econômico e político. Além dos milhões de barris de petróleo, Kadafi auxiliou os EUA com preciosas informações sobre a Al Qaeda. Com seu estilo, aparentemente, refinado e nababesco conquistou a atenção de muitos líderes, inclusive o ex presidente Lula.
Kadafi nunca deixou as forças armadas com poderes maiores que o seu, formou uma série de milícias para sedimentar seus poderes por toda a sociedade. Esse fato indica problemas para uma transição política, pois diferentemente do Egito e Tunísia, as forças armadas são fragmentadas e os outros poderes, também são fragilizados.
Porém, mesmo com as reformas socioeconômicas a onda de manifestações atacou o regime, até então, estável. Contaminados pelas revoltas em outros países, grupos contra ditadura, iniciaram manifestações, no mesmo momento, Kadafi reagiu e ordenou que suas milícias e o exército atacassem os revoltosos. Os números de mortos passam de mil, segundo os opositores e organizações pelos direitos humanos presentes no país.
Após os pesados embates a ONU autorizou novas sanções contra a família de Muamar Kadafi e seus correligionários, as principais potências impuseram suas próprias sanções contra o governo ditatorial em razão da violência contra os civis.
Os problemas na Líbia são mais influentes para o setor energético mundial, o país exporta grande quantidade de combustível para vários países, especialmente, para Europa. Com todos esses distúrbios o barril de petróleo foi a US$ 120, nível semelhante à crise de 2008. Com esse preço o petróleo pressionará ainda mais a inflação no mundo podendo levar vários países a recessão ou estagnação econômica.
Para o Brasil a crise na Líbia possui efeitos diretos. Muitas empresas de infraestrutura e construção civil operam no país, os trabalhadores brasileiros saíram do país pelo temor que a situação se agravasse. Outro efeito foi a valorização das ações da Petrobras em conseqüência do aumento do preço do petróleo.
O fim da ditadura de Kadafi pode estar próximo e o aumento dos distúrbios em outros países é evidente, mas a revolta na Líbia demonstra um aumento na violência contra os manifestantes, ao contrário da queda dos ditadores na Tunísia e Egito a violência de Kadafi é real, por esse motivo a mobilização da comunidade mundial é maior.
Vale destacar a participação dos meios de comunicação, pois a telefonia móvel, a rede de TV Al Jazeera e os programas de rede social provocam uma forte ressonância, fortalecimento e organização para os anseios participativos dos jovens árabes.
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